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Ativem os seus microfones e deem boas-vindas a Dandara Pagu, o mais novo ícone do Clubhouse! Leia a seguir e descubra a história por trás desta voz tão singular. Nós acreditamos que Dandara representa a comunidade do Clubhouse como ninguém e ter o seu sorriso recebendo pessoas do mundo todo na nossa plataforma nos deixa muito orgulhosos.

Fotografado por Helen Salomão

Dandara Pagu tem uma energia que não dá para ignorar. É impossível entrar em uma de suas salas no Clubhouse e não ficar encantado com tanta sabedoria - e também com sua voz acolhedora. Aliás, você nem precisa entender português para ficar encantado, e isso é algo que a gente aqui do Clubhouse percebeu bem rápido assim que começou a participar das salas dela.

Dandara passou a se destacar no Clubhouse brasileiro quando moderava algumas conversas de forma não oficial. Hoje em dia, ela está constantemente fazendo um serviço que o seu país (e, sejamos honestos, o mundo inteiro) precisa neste momento: facilitando conversas sobre ideologias políticas e sociais para construir diálogos com pessoas que, muitas vezes, apoiam crenças que negam direitos básicos a ela, uma mulher preta.

Parece injusto que uma pessoa vítima de racismo e violência tenha que moderar discussões como estas, mas Dandara o faz com muita clareza, além de  uma leveza inacreditável. Sua posição como moderadora nunca está focada em colocar panos quentes em conversas ou fazer necessariamente com que as pessoas cheguem a algum consenso. “Eu acho que, hoje em dia, você não pode ficar em cima do muro”, diz ela. ”Me parece que, a partir do momento em que você não se posiciona com firmeza, está concordando com certas violências e desrespeitos, mesmo que essa não seja a intenção.” Ao invés disso, Dandara busca trazer todos que estão na sala a um lugar de compreensão - e ela realmente acredita que pessoas conseguem mudar.

Fotografado por Helen Salomão

Eu já fui muito criticada por isso, mas realmente acredito que essas pessoas podem se tornar aliados. Elas não vão entender de verdade tudo pelo que passei, mas têm poder nas mãos, então eu realmente acredito que, um dia, nós podemos sim ser mais unidos.”  

Na plataforma, Dandara já participou de conversas com grandes personalidades brasileiras, como a cantora Preta Gil, o apresentador Luciano Huck e o diretor Boninho. Fora do Clubhouse, ela é uma produtora, ativista e líder em conversas sobre body positivity que luta principalmente pelos direitos das mulheres negras. Seu trabalho dentro da plataforma não só tem aumentado o seu número de seguidores e valorizado o seu perfil no Brasil, como também proporcionou que ela encontrasse o atual namorado.

“Eu tinha acabado de sair de uma sala em que havia acontecido uma briga e ele também estava lá. Ele ficou na sala até o final. Eu mandei uma mensagem dizendo: ‘Que pessoas loucas, né?’ Daí pra frente, a gente passou a se falar e, por coincidência, ele mora no mesmo bairro que eu.” Os dois estão juntos desde então.

Para Dandara, faz sentido que uma briga entre pessoas desconhecidas tenha levado-a ao amor. Ela enxerga confrontos emocionais e conversas como a única cura para traumas. Dandara também acredita que o antirracismo é uma jornada conjunta que beneficia a humanidade toda. “Racismo é uma doença que, infelizmente, afeta a todos, algumas pessoas sofrem mais e outras menos'', explica. “Eu não acho que pessoas negras tenham a obrigação de explicar isso… Mas me sinto em paz ao falar sobre o que, para mim, graças a Deus e aos orixás, já foi resolvido na terapia. Resolvi dentro de mim e hoje consigo falar sobre. Já sofri violência sexual e várias outras coisas…. E hoje eu acredito que, se alguém está me ouvindo ou se dispõe a me ouvir, esta pessoa está de fato buscando alguma mudança.”

Não foi fácil chegar aqui no que diz respeito ao autoconhecimento. Dandara nasceu em Recife, Pernambuco, no Nordeste, uma das áreas de maior pobreza do país e dona de alguns dos lugares mais bonitos do mundo. Ela tem 12 irmãos, sendo que quatro morreram ainda na infância. “Uma das coisas que realmente me ajudaram a sobreviver diante de toda a violência que eu vivi foi racionalizar. Pensar e entender: ‘por que esta pessoa está fazendo isso comigo?’”

Dandara não esconde a dura realidade que vivenciou. Ela relata que este processo a ajudou a compreender a atitude de sua avó, que a agredia na infância, e a transformar a dor em paciência e empatia através da terapia. “Eu pensava: ‘por que a minha avó é tão violenta comigo? Porque todos foram violentos com ela.’ Antigamente, eu era uma pessoa triste, mas hoje não sou mais. Eu falo sobre as minhas experiências porque penso que, se alguém em algum momento estiver sofrendo violências e passando por uma situação de pobreza ou algo extremo, esta pessoa pode olhar para mim e pensar: ‘talvez eu consiga superar.’ E se for alguém que nunca passou por nada disso, vai poder entender que, no Brasil, no mundo, existe quem enfrente violência - e aí talvez consiga criar empatia diante dessa realidade diferente.”

A comunicadora digital  acredita que as pessoas a acompanham no Clubhouse pelo mesmo motivo pelo qual ela própria foi atraída para a plataforma: porque trata-se de um lugar horizontal de escuta. Ali, através da palavra falada, Dandara sente-se segura para ser ela mesma. Hoje, ela sente na pele o que é se tornar protagonista de sua própria história e ser vista como ela é - ou melhor, ouvida.

Fotografado por Helen Salomão